Encontrei um texto que achei interessante, sobre um tiozinho bem alto, que já mencionei algumas vezes aqui no blog. Vou compartilhar com vocês, mesmo sabendo que assassinos não é um dos temas preferidos de quem costuma entrar aqui.
Leia antes a história de Ed Kemper, caso não a conheça.
Estranhamente, Ed Kemper não é um serial killer
muito “badalado”, muito conhecido. Isto é incompreensível, por uma
série de motivos: é americano, matou a mãe, talvez praticou canibalismo,
está vivo e consegue falar de uma forma muito bem articulada. Talvez
não seja tão famoso porque não tenha a arrogância desafiadora de um Ted
Bundy ou um Charles Manson? Ou porque não foi ainda matéria de um bom
filme?!
Ed Kemper parece um caso típico de transtorno de personalidade
anti-social. O diagnóstico recebido na adolescência, de psicótico,
parece exagerado, não fundamentado. Um anti-social “como os de livro”.
Os sintomas surgem claramente antes dos 18 anos – não há indício maior
que o assassinato dos avós.
A história que Ed Kemper conta, de desprezo por parte da mãe, como
gênese da coisa toda, tem uma grande penetrabilidade em nossas mentes,
facilmente nos deixamos levar por ela, possivelmente porque lembra-nos
imediatamente tudo o que já ouvimos falar sobre as relações literalmente
“umbilicais” entre mãe e filho, complexo de Édipo etc.
Esta história nos seduz por sua obviedade, e é também esta obviedade
que quase não nos deixa enxergar como esta explicação é tão fraca. Nossa
cabeça funciona em busca de motivos psicológicos, e a história de
problemas com a mãe como gênese de problemas já está tão fundamentada em
nosso (sub/in)consciente, que talvez mesmo se ele tivesse dito que a
mãe sempre lhe tratava bem, mas um dia ela lhe deu um tapa sem motivo,
talvez ainda assim acharíamos a explicação plausível.
Mas é justamente frente a estas obviedades psicológicas que devemos
tentar manter a lucidez. A pergunta sempre deve ser feita: quantas mães
não rejeitam seus filhos? E qual a mínima porcentagem destes chega ao
ponto de, por causa disto, virar um serial killer?
Acordemos para os fatos. A mãe de Kemper o trancava no porão. A
separação dos pais o privou de seu pai. Sim, tudo isto, mas: e daí?!
Onde estão os exageros da história? Kemper foi violentado quando
criança? Não! A mãe o espancava? Não, nada disso é relatado!
E mais: se a mãe o trancava no porão, e ele ficou doente depois
disso, temos que fazer outra pergunta – por que ela o trancava lá?!
Porque tinha medo de que aquela estranha criança pudesse fazer algo com
suas irmãs. Aquela criança que cortava a cabeça das bonecas.
A mãe de Kemper não tem culpa quase nenhuma nesta história. A avó paterna também não. O avô materno também não.
Infelizmente, toda uma série de teorias é construída em casos assim.
Inclusive pelo próprio criminoso. E quase todo mundo parece crer nelas
sem questionar seus fundamentos. Mas, simplesmente, não tem muita lógica
a ligação entre seu “sofrimento” na infância e o ponto aonde chegou –
matar os avós, matar várias garotas e, por fim, a mãe. Teorias dizem
que, matando as garotas, simbolicamente matava a mãe. E que, quando
matou a mãe, Ed Kemper deixou de simbolizar, não precisava mais matar
ninguém, e por isso se entregou. É uma bela história. E, realmente, faz
sentido!
O que não faz é a história da causa do transtorno. Mas esta
outra, das conseqüências, até que faz. O que não faz sentido é o ódio
mortal que sentia da mãe, antes dos crimes. Este ódio não foi causado
pelas atitudes dela. Simplesmente nasceu nele, porque ele praticamente
nasceu com um problema, com uma doença. As razões para isto, as
justificativas para o ódio, sua mente teve que construir. Teve que
reforçar os motivos visíveis, reais.
Poderia ter reforçado de outra maneira, em cima do pai. E ter saído
matando e violentando homens. Se o pai tivesse tratado-o tão mal, quando
criança. Mas foi a mãe, que não tinha como perceber as conseqüências de
seus atos sobre uma criança que já era doente.
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