quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Eu me lembro como se fosse hoje. Foi provavelmente o início de um dos piores domingos da minha vida. Era de madrugada, antes de uma viagem a trabalho e eu estava sozinha, tentando dormir no carro de uma maquiadora filha da puta, estacionado no estúdio de um fotógrafo famoso. A vaca tinha saído e deixado o rádio ligado numa daquelas rádios que só tocam MPB. Ela queria me matar aos poucos. Eu me revirava na merda do banco, mas não conseguia dormir por nada. Em pouco tempo eu ia entrar em uma vã, com uma equipe chatíssima, pra locação de um ensaio fotografico entediante e só voltaria a noite. Eu queria dormir as poucas horas que fossem, pra por um momento, esquecer que estava ali.

Até que começou a tocar uma música - que mesmo não querendo - eu acabei prestando atenção na letra.

Daí... que eu não acho justo que só eu tenha que passar por essas coisas na minha vida e resolvi postar a música aqui, pra quem sabe, um de vocês ler a letra até o final e sentir a mesma vontade que eu tive, de roubar aquela merda de carro e voltar pra casa, me trancar no quarto, vomitar na cama e dormir em cima.



Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado

Por esse pão pra comer, por esse chão prá dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,
Deus lhe pagueItálico
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,
Deus lhe pague










ME.MATAR.AOS.POUCOS.

Nenhum comentário: