sexta-feira, 3 de abril de 2009

Exagerado...



Assisti, talvez pela décima vez, Cazuza – O Tempo Não Pára. Todos têm em sua vida um filme que deixou marcas, influências, memórias. Esse é o meu. Tinha 16 anos, estava em uma fase em que tinha certeza de que estudaria cinema, vivia com a filmadora na mão criando todo tipo de historia, paródia, roteiros, improvisos. Decidi que pra me inspirar ainda mais, ia passar um tempo só vendo filmes nacionais e foi o que fiz, saia do colégio e ia pra locadora. Assisti todos os que haviam na prateleira. Foi então que um filmezinho, ruim o bastante pra eu nem lembrar o nome, estreou nos cinemas e como se tratava de algo nacional, resolvi ir ver. Cabulei, não avisei ninguém e fui sozinha, eu era muito individualista e confiante pra uma pessoa da minha idade. Mas algo me impediu de prestar atenção no tal filme aquela tarde... E foi o trailer de Cazuza, um simples trailer de 5 minutos que mexeu com minha cabeça de uma forma que passei a sessão toda relembrando em flashes daqueles trechos...
Quando finalmente estreou, fui assistir com umas colegas da época. Houve um impacto muito grande em conhecer aquela história. Uma inspiração e muitos questionamentos. Foi nesse dia, em uma brincadeira de trocar inicias, que meu apelido surgiu... Nazuza (duh!). Eu vivo dizendo que ofendo o Caju com isso. Principalmente na época, eu era o oposto dele: anti-social, mau-humorada, arrogante, cheia de “não me toquem”. Engraçado como as coisas mudaram, não propositalmente, talvez de forma inconsciente, mas mudaram. No outro ano eu fui estudar a noite e me senti mais próxima da figura dele. Haviam cigarros, maconha, gays (muitos), bebidas, putaria e uma mudança visível na minha personalidade. Eu havia saído de um grupo de nerds, onde eu nunca havia me encaixado – talvez por isso meu jeito individualista - para um grupo de gente porra-louca, onde eu finalmente me senti à vontade. Cheguei a me perguntar se era mesmo minha personalidade mudando, ou finalmente podendo se expressar e ainda, se talvez por isso, eu tivesse me apaixonado tanto pelo Cazuza. Não era apenas admiração, mas também identificação. Li “Só As Mães São Felizes” pouco tempo após assistir o filme, queria saber mais, alimentar meu fascínio e de fato, pude mergulhar mais fundo naquela história, pude ver pelos olhos Lucinha Araújo a dor e a tristeza do fim. Pensava em como a Aids parecia mesmo, como alguns teorizam, uma doença criada por cientistas, como se seus efeitos fossem propositalmente desenvolvidos em forma de castigo. A doença, antes extremamente associada ao homossexualismo, impedia a maioria dos infectados de fazer exatamente aquilo que eles mais amavam. Cazuza, antes tão aberto, promiscuo, da “turma do abraço”, estava agora condenado a se conter, se fechar. Me lembro de ler também a biografia da Madonna e me dar conta do quanto essa doença parecia ainda mais cruel aquela época, como uma praga, até mesmo dançarinos da turnê Blond Ambition morreram em conseqüência da Aids.

Cazuza me parece um, entre vários outros artistas que admiro, que personificaram a frase “live fast, die young”.

Quantas pessoas não vão chegar aos seus 90 anos, sem ter vivido em quase um século, o que Cazuza viveu/experimentou/ousou em 32 anos? Deixando ainda, uma herança para todos os fãs, de músicas, letras, poesias... que nunca ficam velhas.

Alguns heróis não morrem de overdose.

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