quinta-feira, 17 de abril de 2008

Enquanto isso...

As duas estavam sentadas naquele ambiente novo, de classe alta. Qualquer um que parasse para observa-las por mais de alguns minutos, seria capaz de notar que elas não pertenciam a esse tipo de lugar. Era uma casa noturna, serviam bebidas enquanto pessoas de plástico posavam de indiferentes.

- Ah, então, você ficou de me contar o que aconteceu esses últimos dias! Cara, faz muito tempo que a gente não se fala. Bom, muito tempo pra gente, que costuma manter contato todo dia... Foram o quê? Duas semanas sem telefonemas?


- Algo assim. É que tava foda, tava foda... Nossa, nem sei por onde começar.


- Porra, o que aconteceu, me conta...

- Tive um "breakdown" fodido. Foi patético. Surtei de vez... Eu me sentia com um acumulo de coisas ruins nas costas, tipo um jumento infeliz que é obrigado a carregar lixo dos outros, sabe?

- Sei. Tanto isso na realidade, quanto na forma de expressão que você está usando, rsrs

- Pois é. Acabei batendo-boca por e-mail, com minha irmã. Escrevia tudo errado e no maior impulso, acabei digitando uma frase sem nem perceber, que me entregou. Coloquei na última linha, depois de um monte de lamentações... "não agüento mais". Pronto, 3 palavras banais e já acharam que eu ia me matar!

- Nossa, mas por que você estava assim?

- Eu estava depressiva, tudo dava errado e não é modo de dizer, tudo dava errado mesmo. Essa vida comum não tem graça, tem? Eu não vejo sentido em existir nesse lifestyle. Ou é do meu jeito, ou não é. Não digo por charme, digo por birra. Sou assim, porra. Sou assim!

- É complicado... mas...

- Daí me interrogaram, começaram a falar que eu estava indo longe demais - longe demais? eu nem tinha planejado meu suicídio -

- Quem te interrogou?

- Minhas irmãs...

- Ah, tá...

- Eu disfarcei, né? Pois não disse aquilo pra conseguir atenção, disse tentando me livrar dela. Tipo "cansei, me deixem em paz". Mas eu tava fodida mesmo. Puta cu, todo dia um cu... A idéia de que as coisas eram tão limitadas e que eu teria que me encaixar àquele limite me tiravam do sério. Daí eu fui ao médico...

- Psicólogo?

- Não, fui ao neurologista mesmo...

- Hmmm, e aí?

- Ele me passou um monte de antidepressivo. Fluoxetina, passiflora, vitamina B5, melissa... Calmante até o cu dizer chega!

- Caralho, não fazia idéia de que você estava assim. Achei que tava de boa, em casa, sei lá...

- Tive que ficar presa em casa, isso sim. Por isso que vim agora pro apê da minha irmã, pra pssar uns tempos aqui e ver se me recupero.

- Ah, entendi... Aí ela te chamou pra festa...

- É, pra eu me destrair e tal... Aliás, eu não podia estar tomando álcool.

- Eeeeee, não vai me morrer aí, sua vaca!

- Ué, mas não era essa a idéia desde o principio?

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